O dia da mãe: rescaldo

Legenda: aplicador Tampax Compak, viajado e exposto nos recreios da escola da minha filha.

Não. 
Não vou partilhar fotografias de beijos babosos e de prendinhas lindas, copiadas de qualquer grupo de facebook de apoio às AECs e Primeira Infância. Se o meu dia da mãe foi maravilhoso? Claro que sim. Não perdi as minhas crias de vista, rimos, divertimo-nos e fomos simplesmente felizes, como manda a tradição. Quanto às prendas que trouxeram da escola, vou guardar na minha memória o sorriso rasgado de orgulho de cada uma delas quando me entregaram os seus presentes: uma malinha de pano cru com as mãozinhas a desenhar flores (sim, amigas de Braga a Évora, igualzinha às vossas) e uma flor em pedaços de garrafa de plástico (idem).

Já me tinha apercebido que a criatividade anda em crise. Pessoalmente, a minha incapacidade de improvisar ao piano qualquer sol-e-dó são a minha triste constatação pessoal. E a necessidade do incentivo à criatividade é tema altamente debatido nos blogs supé-fashion da parentalidade. Tanto mais que o bicho-papão dos trabalhos de casa leva por tabela: estamos a criar robots sem pinga de criatividade, porque as crianças se atolam em trabalhos de casa, dizem eles. Estar na escola das 9h às 16h e ainda trazer trabalhos para casa, é dose de trolha, claro que eu percebo. Pois, mas tanto eu como o pai fazemos questão que os trabalhos sejam feitos. Porquê?! Porque vivemos no Algarve! A escola é a cinco minutos de casa e se há tempo para televisão, há tempo para trabalhos de casa; os dias são grandes e há sempre horas de brincadeira com a irmã antes de ir para a cama, seja de bicicleta, no parque ao pé da praia, na natação ou na casa da vizinha. No próximo ano lectivo hipoteticamente haverá um ATL envolvido, mas até agora, vamos dando conta do recado.

Apesar do anteriormente exposto, as minhas filhas são o arauto da criatividade infantil. Há sempre um espectáculo, uma canção ou uma montagem de amontoados de móveis que têm para nos mostrar. E nós babados, vamos vendo, observando e rindo com elas. Actualmente estamos a tentar mostrar uma direcção, ajudar a construir um certo espírito crítico e de exigência. Sempre com a auto-estima de cada uma em mente, claro. Tanto é que a M. apesar da opinião negativa da professora (!) tem a fama de ser uma excelente contadora de histórias. E popular! Numa escola com centenas de cachopos do Jardim de Infância ao quarto ano, fico sempre muito vaidosa com as crianças que a vão cumprimentado. "-Olá M.!", "-Viste, era a M.!"
Uau!!!
A J. é um assombro no Jardim de Infância. Mudou de escola e de pedagogia e parece que sempre lá esteve. Aliás, nunca nenhuma das minhas filhas teve problemas de integração: quanto às competências sociais, não podia estar mais descansada. A cachopa aos 4 anos é exemplo para os que para o ano já vão deixar a sala, principalmente pela autonomia e pelo empenho em se superar. 

Voltemos então aos momentos de brincadeira livre das minhas filhas...
Até há alguns meses atrás, o espaço para as minhas filhas brincarem e desarrumarem, vulgo quarto, ficava ao lado do WC onde eu tenho os meus artigos de higiene pessoal. Sim, tenho curiosidade em experimentar o tal copo menstrual, mas por razões muito práticas sou vulgar utilizadora de tampões, durante os meus dias de menstruação. Não sou obsessiva em contabilizar grandes inventários de imobilizado (cá está o defeito da Sílvia enquanto empresária!) e nunca me dei conta de faltarem tampões na caixa. 

Até que há dias vi o dito da imagem de cima na mala da escola da M.! Ai, que vergonha que eu senti naquele momento: a minha filha estava a levar para a escola para brincar com as amigas um aplicador de tampões menstruais! Enquanto as outras levam Barbies, Little Pets Shops e os cromos dos animais do Pingo Doce a minha M. leva um aplicador de tampões! Cadê a minha auto-estima no meio desta cena, hem?!
Lá vesti a capa de detective maternal e consegui reconstruir a história. As mocinhas acharam piada aos pacotinhos verdes, pareciam uns doces compridos, inexplicavelmente guardados no WC, e decidiram explorar o objecto. Lá dentro, tinha a tal peça - de que a mãe estava a fazer um pé de vento - e um algodão com um fio. O algodão teve várias utilidades: limpar o quadro de ardósia, limpar as caras das Barbies, servir de cavalo a um boneco minúsculo, de ovelha na quinta playmobil e por fim foi inchar no fundo da sanita. Já a peça de plástico foi levada para a escola, claro (!) para exibir e descobrir com as amigas as mil e umas aplicações do dito-cujo. Dada a tenra idade da criança adiei o pormenor do orifício onde o objecto é suposto ser usado, para daqui a uns pares de anos. Mas relembrei a história de que as coisas do pai e da mãe não são para ser levadas para a escola. E que  enquanto agora levam os lenços de papel, mais tarde terão uma bolsinha gira onde irão levar outras coisas que a mãe depois explica como funcionam e para que servem.

Sim, adoro ser mãe. Dá-me imenso gozo. E acredito que tenho filhas que são felizes com pequenos nadas; muitas coisas com valor comercial que elas nos pedem, mas que devido aos nossos erros empresariais, não estão actualmente ao nosso alcance. 

Quanto aos pequenos nadas? São um tudo que muita gente não tem a possibilidade de dar aos seus filhos: tempo, estabilidade e felicidade. E assim vamos construíndo as histórias e memória da nossa família no Algarve.

Entretanto, é claro que me lembrei do famoso anúncio dos Preservativos Control "De quem é isto?"







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