Ser inocente como uma criança

Na semana passada celebrou-se o Dia da Criança. Confesso que é um dia que me deixa ansiosa e triste. As minhas filhas pertencem à minúscula percentagem que tem a liberdade e a possibilidade de celebrar a sua infância no dia 1 de junho, mas faz-me doer a alma pensar no mar de crianças pelo qual este dia faz cada vez mais sentido. 

Sinto algum repúdio por embarcar em festividades e eventos nesse dia e nos seguintes. Sinto-me manipulada, sob o efeito de uma droga que me desliga a consciência da dura realidade: a das crianças que são devolvidas às instituições que as entregaram a famílias supostamente aptas para adoptar; das que são vítima da miséria e da pobreza mesmo aqui ao lado, no bairro; das que trabalham nas minas e nas fábricas para eu ter um telemóvel XPTO; das que lhes trocam uma caneta e um caderno por uma metralhadora; das que embarcam em botes de borracha e se perdem no Mediterrâneo. Escondo estes meus sentimentos das minhas filhas, porque não lhes vou roubar a inocência e quero que continuem a ser crianças. E opto por celebrar com elas todos os dias a abundância e a liberdade que têm.

O Dia da Criança é para mim um murro no estômago, ao saber que um dia poderá passar pela cabeça da M. e da J. que o Dia da Criança é mais um lava-consciências entre tantos outros que a humanidade tem engenho em ratificar, sem um plano exequível para retificar o que está mal com esta humanidade.

Fonte: pixabay.com (CC0 public domain)







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