Os restaurantes e o verão algarvio

Se há negócio que me intriga é o da restauração. Tanta incerteza na concepção das ementas, compras, contratação e manutenção de empregados, que tanto restaurante aberto e a funcionar no fim da temporada, me deixa estupefacta. Todos temos de comer, certo? E de vez em quando pode ser fora.

Os meses de Junho e Julho devem ter deixado muito empresário louletano com os nervos à flor da pele, tal foi a calmaria. Há umas semanas fomos numa pausa do trabalho tentar tomar uma imperial e picar qualquer coisa em jeito de almoço, ali abaixo ao calçadão, e metia dó: as esplanadas estavam mais vazias do que no pico do Inverno. Eram mais os empregados do que os clientes. Um pesadelo para qualquer gestor. O tempo não ajudou: tive dias que pensei que em vez de viver em Quarteira, vivia no Guincho. Em cinco anos a viver nesta cidade, não me lembro de um mês de Julho tão calmo e tão ventoso.

Mesmo assim, vão surgindo algumas novidades. Abriu há pouco tempo um restaurante aqui perto que aparentemente está a ter bastante sucesso. O espaço parece moderno e o parque de estacionamento do dito está sempre composto. Mas eis o que me revolta as entranha: já se imaginaram a jantar num talho dos anos 80, do século passado, com os animais mortos pendurados nos ganchos da montra? Neste sítio dá para ter essa experiência. Ao lado da sala de refeições, existe uma sala envidraçada com os animais mortos, esfolados, pendurados em ganchos de talho. Falamos de animais  de porte, tipo o porco, o vitelo... Sem qualquer pudor, e visíveis da estrada mais próxima, ali estão as carcaças dos coitados, tal como vieram do matadouro. Passar lá na estrada à noite, com as carcaças iluminadas, é tenebroso. Mas para quem não quer pensar muito no assunto, talvez seja uma experiência mais genuína, mais Ur. 
Pergunta muito, mas mesmo muito estúpida: será que há quem faça vénias às carcaças dependuradas ao entrar, pouco antes de ver as costeletas do cachaço serem servidas no prato? 



Mais je suis hipócrita e hoje fui jantar com a família a uma hamburgueria cá das redondezas. Já lá tinhamos ido algumas vezes mas esta foi a última. O restaurante é muito agradável,  a ementa é interessante para todos nós e o hambúrguer de falafel é memorável. O preço de uma refeição não costuma ser descabido, os ingredientes são frescos e alguns até são da própria horta; a cozinha está separada da sala por um vidro.  Muito fashion.

Tudo muito convidativo, certo?
Errado.

Não tínhamos reserva, e o moço da entrada achou que o golpe de teatro a olhar durante uns minutos para o tablet nos ia fazer desistir: "- Nesta altura, sem reserva, aqui é complicado... Pronto... consigo sentar-vos na mesa 15..." Estavam duas mesas ocupadas quando entrámos e ficaram três quando saímos uma hora e meia depois. A equipa da sala parecia saída de um filme zombie, enquanto personagens comida#1, comida#2, comida#3. O H. passou as passinhas do Algarve para pedir a segunda bebida.
Estaríamos a usar o nosso manto de invisibilidade?! 
Jantámos, mas sempre com a sensação que os empregados não estavam para aí virados, mais pareciam baratas tontas, sem sistema nervoso central. Demos por terminada a nossa última experiência naquele restaurante com a sensação que não nos queriam lá por sermos portugueses. Tive pena que as minhas duas filhas se saibam comportar num restaurante. A única a deixar cair um talher da mesa fui eu.

Que Algarve feio este, hem?!

Fonte: pixabay.com

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